1.4.17

O POR QUÊ DO OTIMISMO DE ALGUMAS PESSOAS



“Então, Calebe fez calar o povo perante Moisés e disse: Subamos animosamente e possuamo-la em herança; porque, certamente, prevaleceremos contra ela.”  Nm. 13:30

            A terra a ser conquistada estava sendo espionada. Os filhos de Israel ainda não haviam entrado nas promessas de Deus, mas alimentavam-se das mesmas. Quando os doze espias fizeram a pesquisa, voltaram trazendo um relatório negativo segundo a visão pessoal. Dos doze que foram, apenas dois tiveram uma visão otimista e perfeita do plano de Deus. Concluimos com isso que nem sempre a voz da maioria é a voz de Deus, e que nem pessimismo nem otimismo tem a ver com a vontade de Deus; é sentimento dos homens.
            Mas os dois que trouxeram relatório otimista, o fizeram:

I – Porque não podiam se contaminar com os relatórios da derrota, v. 27.
Enquanto ouviam os relatórios dos homens que entraram na terra mas não conseguiram visualizar Deus na terra, pinçaram todos os problemas, dificuldades, impossibilidades e se sentiram gafanhotos, os dois viram a grandeza de Deus, as maravilhas da terra e tudo que poderiam alcançar com aquela conquista. Então disseram: “Subamos animosamente e possuamo-la em herança;”

II – Porque tinham certeza de que Deus não os envergonharia, v.30.
Aquele otimismo todos não era o otimismo pelo otimismo, mas uma confiança integral em Deus, e que Ele (Deus) é responsável pela vida daqueles que N’Ele confiam. Quando uma pessoa acredita em Deus sem vacilar, pode ter certeza que nunca será envergonhada, mesmo diante de relatórios de derrota, diante da cova de leões, de fornalhas superaquecidas, de provas que achamos chegar o fim. Crer no Senhor é andar tão livre que nem provas, nem vergonha, nem exaltação faz sentido algum. Quem crê no Senhor sabe que existe a vergonha, que existe o elogio, que tudo isso faz parte da vida, mas o foco continua em Deus.

III – Porque sua visão era de gigantes e não de gafanhotos, v.33.
A visão daqueles dois era visão de gigantes, de águia, de excelência, de gente que exercitou seus sentimentos nas grandezas e nos feitos de Deus! Quando trabalhamos nossa visão, nos tornamos aquilo que visualizamos, sonhamos, pensamos. Enquanto os outros dez espias se sentiam como gafanhotos, os dois sentiam-se gigantes e tentavam influenciar todo o povo. Para que a pessoa se veja como gigante precisa eliminar as comparações; parar de medir seu tamanho pelo dos outros. Cada pessoa tem tamanho, digital e batidas de coração personalizados. Você pode até ter referencias, mas não queira sê-las.

CONCLUSÃO:- Se caso você tivesse oportunidade de andar com um desses dois tipos de pessoas, um que fala com convicção e é otimista e outra que fala a realidade e é pessimista; com qual andaria?

9.2.17

A ESCOLA DO FUTURO

            Voltando de uma reunião de liderança onde foram discutidos vários assuntos pertinentes, veio a preocupação com a Escola Bíblica que algumas Igrejas ainda conservam. Colegas vieram abordar como fazer para insuflar um ânimo novo e refazer aquela escola que sobreviveu ao longo desses mais de 230 anos, criação de Robert Raikes, quando na Inglaterra começou a partir de uma necessidade local e muito personalizada. Raikes sentiu que precisava assistir algumas crianças pobres que trabalhavam a semana toda e aos domingos ficavam nas ruas sem ter o que fazer. Não imaginava a repercussão daquela preocupação aparentemente simples. Ainda em nossos dias alguns lideres vem sofrendo com a decadente frequência com que as escolas bíblicas estão enfrentando.
            Não somente a Escola Bíblica passa por esse momento, mas também a escola secular.  Entender essa transição fazendo uma leitura do novo caminho que esse modelo percorre deve ser a reflexão dos líderes, professores, diretores, pastores e pessoas ligadas à educação. De certa forma as mudanças estão transcorrendo e quer queiramos ou não, aquele modelo antigo das salas de aula, a fila (chamada burra) das carteiras, uma pessoa falando, falando à frente do grupo, a velha e antiga lousa já tem seus dias contados. Com o advento da tecnologia, onde as pessoas carregam as informações dentro do bolso por onde vão, precisamos ficar cientes que a mudança já está acontecendo. É tão real a mudança que até a terminologia usada é outra. Para aqueles que ficaram no modelo antigo é bom que fique claro que, para essa nova realidade não tem protesto: é entrar ou sentir-se excluído sem direito a reclamações.
            A Pedagoga. Há aproximadamente uns 18 anos atrás uma pedagoga de nossa igreja foi fazer um curso para a nova dinâmica pedagógica que vislumbrava. Quando voltou, disse: “A lousa é eletrônica, cada aluno tem um tablete e se comunica com a professora através da tela do mesmo”. As dúvidas eram tiradas por comunicação virtual e tanto os alunos como os professores ficavam de plantão para quaisquer esclarecimentos. De casa mesmo entravam em contato via internet senha-colégio-aluno-professor, a qualquer hora em que estivessem estudando. Uma revolução!
            Olhando a história, notamos que as mudanças no passado levavam em torno de 100 anos; foram diminuindo, passando para 50, 10, 5 anos e agora elas antecipam os acontecimentos; os estudiosos chamam isso de ‘tendências’. Quais serão as tendências daqui a tantos anos!?! Elas são previsíveis? Logo, as tendências para a moda, para a saúde, para a educação, para a comunicação e para todos outros aspectos são previsíveis.                         
            Gostaria de provocar nessa reflexão célere uma discussão sobre essa escola do futuro e levantar quais tendências assediam a escola chamada bíblica, a comunicação dentro da igreja, o comportamento do nosso povo para um período de aproximadamente uma ou duas décadas no máximo, baseando-nos nas mudanças tecnológicas ocorridas e nas tendências advindas dessas mudanças.
           
Escola Pós Moderna
A era pós-moderna tem a sua marca própria e é chamada de ‘Era do Vazio’. O que mais tem marcado esse tempo é o compromisso com o nada. Parece que nos familiarizamos com as mudanças tão constantes que nosso senso já não separa mais o que é bom e que é ótimo. As mudanças ocorrem com tanta facilidade e rapidez que os habitantes da pós-modernidade não discernem mais se o rio está subindo ou descendo, ou para eles, tanto faz. As questões do gênero viraram questões genéricas; tanto faz ser homem como mulher: ‘é só uma questão de escolha’, dizem. Já não percebemos que tanta informação que chega até nós, nada informa.
 
Armazenamento nas nuvens.
Ao longo das eras, há um tempo não muito distante, as universidades eram avaliadas por suas bibliotecas e pelo volume de livros nelas contido. O primeiro lugar que auditores do MEC (Ministério da Educação e Cultura) observavam numa universidade era sua biblioteca. Sabiam que a vitalidade universitária e o conhecimento estavam armazenados naquele lugar tão importante. O conhecimento estava à disposição dos acadêmicos, todavia, só podiam acessar aquele local e volumes com a devida e prévia autorização. 
Com o advento da tecnologia, o conhecimento saiu de dentro das bibliotecas e está acessível a todos, em todo tempo, em todos os lugares, sobre todos os assuntos. Isso acontece dentro dessa nova realidade que diretores, professores e alunos da Escola do Futuro já estão enfrentando. Essa Escola armazena suas informações e conhecimentos nas nuvens. Tudo está lá; é só acessar; um clique e o assunto pesquisado aparece diante dos olhos. Um chip do tamanho de um grão de arroz armazena mais informação que muitas bibliotecas juntas.
‘As nuvens’ tornaram-se a biblioteca mais consultada da história da humanidade, fazendo com que todas as pessoas busquem ali a informação que quiserem. Nelas estão depositados a água limpa e também os resíduos contaminados pelos poluentes químicos e heréticos que os homens tem lançado lá.
           
Escola Onipresente
            Outra característica dessa Escola do Futuro é o sentimento onipresente que a mesma carrega. Não há como fugir; onde a pessoa for, conseguirá acessar a aula, professor, matéria, rever assuntos já discutidos, deixar suas impressões sobre tal, e por fim, dar um sinal se concorda ou não. Esse é outro aspecto irreversível nessa Escola.
            A marca ‘online’ é o logo dessa nova Escola. Quem não usar esse uniforme, não entra! É necessário também ter algum conhecimento de informática (algum conhecimento é algum curso mais avançado) senão é chamado nessa Escola de analfabeto funcional.
            Os alunos que fazem parte dessa Escola sabem que antes de nascer já estão sendo ‘monitorados’ e suas vidas estão dentro de um HD. Não tem como escapar dessa realidade; A babá que cuida desses alunos chama-se ‘eletrônica’; O berço é embalado por sensores; aniversário do primeiro ano? Tablet ou iphone de ultima geração para, logo, logo ensinar os pais a usar os recursos existentes.
            Os aplicativos usados pelos alunos da nova escola são instrumentos que dizem onde estão, o que fazem, como fazem; além de monitorar, gravam tudo e pasmem, não tem como apagar; o que a pessoa faz, o site que entra, o que a pessoa fala, tudo fica registrado no onisciente dessa nova Escola. Apaga-se do histórico, mas não do registro nas nuvens.

Escola Multiforme
            Existe outro aspecto que deve ficar saliente na realidade dessa nova Escola: é a diversidade das formas que é oferecido aos alunos com o fim de que se mantenham informados. As informações chegam pelas ‘redes sociais’, pelos canais um pouco mais privativos (e-mails), chegam via comunicação individual (telefone com imagem), e até por torpedo. Não nos esqueçamos que todos esses meios são rastreados e tudo fica gravado; mas essa preocupação faz parte da variedade de opções oferecidas pela nova Escola.
            É uma escola versátil com múltiplas possibilidades, fazendo com que todos os que com ela estão envolvidos, tenham opções que lhes garantam ter de diversas maneiras tudo o que precisam. É realmente uma escola para cada gosto! O aluno faz a opção, escolhe o que quer estudar, e já nos primeiros anos elimina as matérias que não ‘faz o seu gênero’. Até o Ministério da Educação já está enxergando a necessidade de mudança no sistema para atender as demandas da nova escola.

Escola dos Conectados
            Esses dias uma bisavó de 93 anos disse: ‘a gente olha para as pessoas e só vê gente ciscando’, referindo-se àqueles que não deixam o seu smartphone nem quando estão dormindo. É a geração dos conectados, daqueles que não desconectam para nada, levando alguns terapeutas a montar clínicas de recuperação para viciados em conexão, como já existem várias no Brasil. A Escola do Futuro também vai trabalhar tempo, horário e vai ensinar os alunos não se tornarem escravos da tecnologia. Vamos esperar pra ver. 

Conclusão:- Para onde iremos nós se só Jesus tem palavras de vida eterna? Com um perfil tão indefinido, característica bipolar, informações esquizofrenizadas e um mundo de descobertas quase sem nada descobrir, essa é a Nova Escola. Tão cheia de detalhes para fazer jus à sua profundidade no vazio. Que tal darmos uma aula de escola bíblica e os membros da igreja ficarem assistindo em casa pelo facebook, instagram ou vídeo conferência?
            Meus queridos diretores: talvez tenhamos que rever nossos conceitos!!!


                                                                                                          Isac Pereira

19.2.16

A ESCOLA DOS VICE-DEUS

A ESCOLA DOS VICE-DEUS
Eles estão por todos os lados! Às vezes ‘generosos’, às vezes ‘bonzinhos’, às vezes ‘simpáticos’ ou às vezes nem tanto. Passam longo tempo dedicando-se a outros e boa parte de sua formação estudando muito. Alguns até vão ao exterior para fazer seu curso e suas especializações. Outros veem do exterior para trabalhar aqui conforme tivemos aquele projeto onde foi importado ‘levas’ e mais ‘levas’ deles via ministério da saúde. São pessoas dedicadas que brotam no meio da comunidade onde vivem, mas quando descobrem que tem tal vocação, saem de seus redutos e, juntamente com a família, pagam alto preço para estudarem e obterem a formação desejada.
Feito todo esse esforço, saem para pleitear uma vaga em alguma escola renomada, estadual, federal, particular, reconhecida, ou que dê condições a eles de alcançarem a conquista, muito bem disputada (uma vaga a cada mil candidatos ou mais), de realizarem o sonho de poder ser útil aos humanos, mortais. São verdadeiros heróis que venceram uma vez quando da primeira corrida que tiveram para chegarem ao encontro do óvulo que os esperava no útero, e assim tornaram-se como um de nós. Mas suas aspirações foram muito elevadas e eles se propuseram a ajudar os outros de maneira diferente. Isso é muito bom, pois a humanidade precisa de pessoas com tais aspirações; todavia, ao entraram para a escola onde iriam realizar seus cursos, dado o alto preço pago já na entrada, deu a esses candidatos um sentimento superior. É um curso muito disputado com poucas vagas, favorecendo para que aqueles que conseguem entrar tenham o sentimento um pouco de superioridade mesmo, afinal, com tanta concorrência, só alguns poucos conseguem.
Mas o que se questiona aqui é o porquê alguns que já se formaram, se sentem tão superiores aos demais mortais. Talvez seja a escola por onde passaram!?! Talvez sejam seus mestres que com altivez lhes ensinou usar um bisturi!?! Talvez sejam os livros onde fazem suas pesquisas detalhando minúcias do seu conhecimento!?! Não se sabe, mas o que se sabe mesmo é que há um sentimento horrível de superioridade de tal maneira que eles quase não podem ficar entre os mortais, tamanha grandeza; Se ficarem, poderão contaminar-se, dizem. São absolutamente intocáveis, estão extraordinariamente distantes e isolados num mundo perfeitamente feito para eles; Ganham o que bem acham (não há nenhum problema nisso); só trabalham em ambientes devidamente equipados e com condições adequadas; quando algum mortal precisa deles, tem que marcar hora, dia e local com o devido tempo prévio, nem que seja caso de vida ou morte (tem lugar daqui a 90 dias para a consulta, respondem suas secretárias); Tem aquele que já galgou certo grau na tabela deles e já chegou à posição de vice-deus que diz assim aos familiares de algum moribundo: ‘leva para morrer em casa’, como se ele fosse o dono da vida e determinasse o quanto o outro pode viver. Que petulância!!! Tem alguns que determinam até quantos dias, horas, ou tempo, o enfermo tem de vida. É nauseante tamanha arrogância!
Levei uma bronca de um vice-deus desses quando estava no corredor de um hospital e fiz uma pergunta a respeito de uma situação que me era pertinente. ‘SÓ POSSO FALAR SOBRE ISSO DENTRO DO MEU CONSULTÓRIO’! Fez-me lembrar da época da inquisição e do confessionário: os ditadores impunham as condições e quem dependesse, se submetia. É só isso! Mas não restou de tudo o que temos visto, senão a certeza de quem passa pela escola que leva essa graduação do sapato branco, já é um forte candidato a vice-deus. Um pai, esses dias confessou: ‘Já falei para aquela pessoa (alguém da família que graduou nessa área) que pare com essa arrogância.’ Depois ele disse: ‘acho que é a escola que ensina ficar prepotente assim, porque na família ninguém tem esse sentimento’.
QUE COISA! Uma escola que forma vice-deuses! Será que isso poderia mudar algum dia?
De alguém que não tem nenhuma preocupação com os candidatos a vice-deus, mas com esse sentimento de superioridade, prepotência ou grandeza sobre os demais mortais, e que sabe qual é o fim disso.

                                                               Isac Pereira

4.12.15

As pessoas nascem originais; mas a maioria morre como cópia.

Você não nasceu para ser copia; Nesses dias de pressão dos colegas, de tendências e modismos, precisamos ter consciência de que cada individuo foi criado sob medida, único, por Deus, o Criador. Cada um de nós tem uma vocação única. Temos de ser nós mesmos.
Por realizar muitos trabalhos com igrejas, tenho contato com muitos tipos diferentes de pessoas. Certa vez conversei pelo telefone com um pastor que eu não conhecia pessoalmente. Fizemos um acordo de que eu visitaria a igreja dele. Quando estávamos encerrando a conversa e combinando a hora de nos encontrar no aeroporto local, ele me perguntou:
- Como vou reconhecê-lo quando você desembarcar do avião?
-Ah; não se preocupe, pastor, eu vou reconhecê-lo - respondi brincando - Todos os pastores são parecidos.
A questão central dessa historia engraçada é que você precisa ser o individuo que Deus fez para você ser.
Deus tem um proposito para nossa vida e nos sustenta. Não precisamos nos adequar aos padrões de mais ninguém. As pessoas medianas compraram-se com outras, mas nós devemos sempre nos comparar com o que Deus nos vocacionou para ser. Nosso padrão é o plano e o projeto singulares de Deus para nossa vida. Como Ele decide tratar com os outros nada tem a ver com a vocação dele para nós.
Eu e você sempre podemos encontrar alguém mais rico que nós, mais pobres ou mais ou menos capaz como nós. Mas como são as outras pessoas, o que elas tem e o que acontece na vida delas não tem efeito nenhum sobre a nossa vocação. No Novo Testamente, em Gálatas 6.4; somos advertidos: “Cada um examine os próprios atos; e então poderá orgulhar-se de si mesmo; sem se comparar com ninguém”.
Deus fez de maneira determinada. Você é singular. É o único do tipo. Copiar outros é baratear-se; menosprezar a plenitude daquilo que Deus o vocacionou para ser e fazer. Imitação é limitação.
Portanto; decida aceitar a ser a pessoa como Deus o criou. Usufrua a originalidade e o gênio criativo de Deus em sua vida. Se você não for você mesmo; quem, então, será?

cia de Deus, mas influenciar a disposição de Deus. A oração não é um topo dispositivo que usamos quando nada mais funciona; ao contrario; é o que O. Hallesby diz: Comece a compreender cada vez mais que a oração é a coisa mais importante que você faz. Você não consegue usar seu tempo para nenhum benefício melhor quando tem oportunidade de orar; quer sozinho, quer com outros, no trabalho, no descanso, ou quando anda pela rua, em qualquer lugar”.



ORAÇÃO

Insista, até conversar com Deus.
Coisas maravilhosas começam a acontecer quando começamos a conversar com Deus. Jamais é o tempo desperdiçado. Charles Spurgeon ensinou: “As vezes, pensamos que estamos ocupados demais. Isso é um grande erro; pois conversar com Deus é economizar tempo”.
Jhan Bunyan observou certa vez: “os melhores homens de oração em geral tem mais gemidos do que palavras”. Eu experimentei esse tipo de prece quando tive muitas necessidades prementes ao meu redor. Sinceramente, cheguei a um ponto em que mal podia pedir por minhas necessidades; pois eram inúmeras. A única palavra que eu conseguia dizer era “Socorro”; e me lembro de tê-la dito a Deus com muita paixão mais de 30 vezes até experimentar uma guinada. O autor do Livro de Salmos declara: “Ouve, Senhor, a minha justa queixa, atenta para o meu clamor”. (Salmo 17:1). Uma das orações mais inteligentes que fiz foi essa. Quando damos um passo em direção a Deus, Ele dá incontáveis passos em nossa direção. E age para suprir nossas necessidades. Somente a oração prova que você confia em Deus.
Oswald Chambers disse: Olhamos a oração como um meio de obter coisas para nós. A ideia bíblica de oração é que “podemos conhecer a Deus”. Siga o conselho de Dwigh L. Moody: ‘Coloque seu pedido diante de Deus e diga: Seja feito o teu querer; não o meu’. A lição mais doce que aprendi na escola de Deus foi deixá-lo escolher para mim”. Ore profundamente antes que se encontre num buraco profundo.
As orações não podem ser respondidas antes de ser feitas. Nada importante ocorre sem que você ore com fervor. Fb. Myer disse: A grande tragédia da vida não é a oração não respondida; mas a oração não feita. Byon Edwards afirmou: quem ora de verdade sempre recebe o que pede ou algo melhor. As respostas de Deus são mais sabias que as nossas. Ann Lewis disse: Há quatro maneiras de Deus responder a oração: não; ainda não; não; Eu o amo muito: sim; acho que você nunca pediu; sim e aqui está mais.
“Toda vez que oramos; nosso horizonte se altera; nossa atitude de mudar é alterada; não às vezes, mas sempre. O curioso é que não oramos mais”. (Oswalf Chambers). Infelizmente, nada é mais discutido e menos praticada que a oração. Ore com os olhos voltados para Deus; não para seus problemas. Martinho Lutero disse: “Quanto menos oro; mais difícil fica; quanto mais oro melhor fica”. Ajoelhar-se com frequência nos mantém em boa forma com Deus. Margaret Gibb disse: precisamos mudar. Em vez de pedir que Deus tome providência em relação às coisas que estão nos partindo o coração devemos orar pelas coisas que estão partindo o coração de Deus. É impossível ser uma vida de oração e pessimista ao mesmo tempo. E.M. Bouds disse: A oração é nossa arma mais amedrontadora; é ela que faz que tudo o que fazemos seja eficaz”. Mark Littleton disse: Transforme suas dúvidas em perguntas transforme suas perguntas em oração; dirija suas orações a Deus. Quando oramos por vitória, Deus nos dá estratégias. Phillips Brooks disse: Orar não é vencer a relutância de Deus, mas influenciar a disposição de Deus. A oração não é um topo dispositivo que usamos quando nada mais funciona; ao contrario; é o que O. Hallesby diz: Comece a compreender cada vez mais que a oração é a coisa mais importante que você faz. Você não consegue usar seu tempo para nenhum benefício melhor quando tem oportunidade de orar; quer sozinho, quer com outros, no trabalho, no descanso, ou quando anda pela rua, em qualquer lugar”.


13.9.15

DESAMARRE O GATO

Isolado no topo de uma montanha distante, o monastério vivia na paz absoluta. Todos os dias, às cinco da madrugada, os monges se reuniam numa sala para a primeira oração da manhã. Em silêncio total e imperturbável, meditavam durante 40 minutos. Num certo dia, no entanto, essa rotina foi quebrada. Um gato, que se instalara no sótão, resolveu que iria caçar ratos, derrubar objetos e miar como louco justamente no momento da oração. A princípio, os monges tentaram abstrair. Não deu certo. O barulho impedia a concentração.

Como não seria piedoso expulsar o gato, o abade tomou uma decisão: “vamos fazer o seguinte”, disse ele a seu ajudante, “às quinze para as cinco da madrugada, você vai até o sótão e amarra o gato. Amordace-o também para que ele não mie. Quando terminarmos a oração, você sobe e o solta”.
Assim durante muito tempo, a ordem do abade foi cumprida. Mesmo depois que ele morreu, anos mais tarde, o gato continuou sendo amarrado e amordaçado. E, quando o gato morreu, os monges saíram em busca de outro gato para que fosse amarrado e amordaçado durante a meditação. As décadas se passaram e os antigos monges também morreram. As novas gerações de abades, irmãos e monges continuaram amarrando e amordaçando o gato.
Com o passar do tempo, ninguém mais saiba dizer como surgira o hábito e nem se lembrava para que servia. Mesmo assim, ou talvez por isso mesmo, o ritual ficou cada vez mais importante. Foi criado o cobiçado cargo de “amarrador de gato” – essa pessoa precisava seguir as diretrizes de um grosso manual, que especificava o tipo de corda a ser usada, quantas voltas tinham de ser dadas ao redor do gato e os tipos de nós permitidos.
No mosteiro, surgiram inúmeros grupos de pesquisa, que se dedicavam a interpretar a origem do ritual – a corrente predominante defendia uma origem divina, argumentado que o gato, a mordaça e a corda eram metáforas da santa trindade. Outros monges, baseados em livros antigos de leitura restrita, garantiam que a simbologia era outra e evidenciava a origem humana – pois só pelas mãos do homem é que gato, corda e mordaça passavam a ser uma entidade única.
Aos poucos, as divergências sobre a origem do ritual ficaram insustentáveis e os monges se dividiram em dois grupos inconciliáveis. Um deles que acreditava que qualquer gato poderia ser amarrado e amordaçado, partiu do monastério e fundou sua própria escola. O outro grupo, que garantia que apenas gatos brancos poderiam ser amarrados e amordaçados, permaneceu no monastério. O primeiro grupo acusa o segundo de radicalismo. O segundo acusa o primeiro de heresia. Já há quem fale em criar uma terceira ordem, com as virtudes dos dois grupos e nenhum dos defeitos. Enquanto isso, muitos monastérios que nunca se desentenderam por causa de rituais incompreensíveis continuam prosperando.
Moral da historia: esquecendo o lado caricatural, quantas vezes você já viu essa historia se repetir em inúmeras igrejas, empresas, casas? Quantas vezes já cumpriu procedimentos sem pé nem cabeça, que ninguém mais sabe quem criou nem para quê? Por isso, iniciamos aqui a campanha Desamarre o gato, para tornar sua vida onde estiver mais produtiva, ou menos ilógica, como queira.

1.9.15

DONS, TALENTOS E MINISTÉRIOS

 “Ora, os dons são diversos, mas o Espírito é o mesmo. E também há diversidade nos serviços, mas o Senhor é o mesmo. E há diversidade nas realizações, mas o mesmo Deus é quem opera tudo em todos. A manifestação do Espírito é concedida a cada um visando um fim proveitoso.         I Co. 12:4-7
            Dons: Dádivas concedidas por Deus aos homens;
            Talentos: habilidades naturais das pessoas;
            Ministérios: Trabalho específico visando o bom funcionamento do corpo (igreja).
Parece não ser um assunto tão interessante quando olhamos para uma geração quase frenética, que se empolga com vociferações agressivas, com uma histeria estridente, com o barulho dos tambores, com reuniões cultuais no ‘escurinho’ e nenhum desejo de aprofundar-se na consciência do evangelho.
Quando Paulo falou sobre dons, talentos e ministérios, falou com veemência a uma igreja onde forçosa e circunstancialmente todos os assuntos pertinentes foram debatidos abertamente. Falou de alguns aspectos que para ele eram claros, todavia, não para a igreja que estava na cidade de Corinto. Então disse: “...os dons são diversos...”. Isso fala da:
1) Diversidade dos Dons. Existem diversos dons: a palavra da sabedoria; a palavra do conhecimento; a fé; dons de curar; operação de milagres; profecia; discernimento de espíritos; variedade de línguas; interpretação das línguas (I Co. 12:8-10). Todos esses dons fazem parte da ‘diversidade’ concedida pelo mesmo Espírito aos crentes, visando, sempre, um fim proveitoso. Ninguém é melhor ou pior porque possui esse ou aquele dom, mas todos juntos cooperam para o crescimento e a unidade do corpo de Cristo que é a igreja. Todos somos diferentes mas dependentes uns dos outros; portanto, todos somos necessários no corpo.
2) Um só Espírito. Aqui fala também da coordenação dos acontecimentos e a distribuição das ferramentas entregues aos santos para o serviço. São pessoas diferentes, unções diferentes, manifestações diferentes, “...mas o Espírito é o mesmo...”. Essa diversidade é importante pois quebra a rotina e a expectativa litúrgica da mesmice. Aquele culto que já sabemos como vai ser, quantas orações terá, que vai dizer o quê, e até o que o pregador vai dizer. Isso também nos dá um senso de responsabilidade muito forte porque sei que aquele que está no controle é o que, na “diversidade dos serviços...” “...quem opera tudo em todos”.
3) Fim proveitoso. Outro aspecto que fica saliente é a natureza e o objetivo desse mover. Ninguém pode requerer para si glória, sentimento de superioridade só porque foi usado ou até achar que a manifestação foi com o fim de deixa-lo mais bonito do que já é. O objetivo da manifestação visa um fim proveitoso. È horizontal, altruísta e não egocêntrica, ou seja, de mim para meu próximo. Se o fim é proveitoso fica ressaltado que tenho que construir na vida de quem está perto, edificar e acrescentar para o bem, sempre. O fim proveitoso me arremete para um olhar para fora de mim. È o propósito da vida cristã: ‘sempre fazer o bem sem olhar a quem’.
Gostaria de concluir pensando que ‘...o Espírito é o mesmo...’, ‘...o Senhor é o mesmo...’, e nisso tudo ainda existem ‘as manifestações’ e ‘as realizações’,  oriundas da mesma essência. Ainda existe outra questão interessante: nós somos o objeto e o objetivo desses acontecimentos na terra. Se Deus nos escolheu, precisamos entender para quê e levar outros irmãos a tornarem-se maduros na fé, sem exigir nada de ninguém. Se o Senhor nos chamou, com santa vocação O fez. Façamos jus a esse chamado e vamos ser útil para o corpo e para o cabeça da igreja, que é Cristo.
Pr. Isac Pereira
>O Apóstolo Paulo era “servo” assim!!!

O SERVO

“Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado para apóstolo, separado para o evangelho de Deus”. Rm. 1:1

            Desde os tempos mais antigos, até à revolta de 70 d.C., o hebreus tinham tido muitos escravos (Gn. 24; 29:15, 18). Um hebreu era vendido à força como escravo por ordem jurídica, se não pudesse ressarcir o valor de bens que furtara (Ex. 22:2), ou vendia a si mesmo por causa da sua pobreza (II Rs. 4:1). Em ambos os casos, a escravidão normalmente era limitada a 6 anos (Ex. 21:5-6). Os escravos desempenhavam um papel integral na vida religiosa (Ex. 12:44). A característica do ‘ebed, ‘servo’, ‘escravo’ no Antigo Testamento, é que ele pertence a outrem.
            Nos tempos bíblicos do Novo Testamento o termo ‘servo’ foi apreciado por pessoas eruditas, poliglotas, com instrução e conhecimento elevados, que entendiam as terminologias e sabiam da profundidade das mesmas, conheciam a origem dos termos e exploraram cada palavra, colocando-as em prática como foi o caso do Apóstolo Paulo.
            Ele conhecia a palavra ‘servo’ nos originais em suas diversas faces e a usou para mostrar quem é o servo.
- ‘doûlos’  “Paulo, doûlos de Jesus Cristo...”. Aqui o termo pode ser traduzido por ‘servo’ ou ‘escravo sem vontade própria’. Era aquela pessoa que tomava a decisão de ser um escravo por um desejo pessoal e intransferível. Na história de Israel havia um ano chamado ‘Ano do Jubileu’, a cada 49 anos, onde todos os escravos recebiam Carta de Alforria, permitindo que aquele escravo saísse livre e a partir de então não ficasse mais sujeito a nenhum senhor. Mas havia alguns escravos que não queriam ir embora, porque talvez tivesse nascido escravo e não saberia como viver em liberdade; talvez porque não tivesse para onde ir; talvez porque gostasse da casa onde vivia; o certo é que não queriam ir embora, então ele ia até seu senhor e falava sobre sua decisão e porque não queria ir embora, tornando-se assim um escravo por decisão própria. Seu senhor pegava uma sovela e ia até o batente da porta e furava a orelha daquele escravo, colocava a seguir um pedaço de pau em sua orelha. A partir de então todos saberiam que aquele escravo o era por vontade própria. Paulo assim se designou a si mesmo.
- ‘diákonos’. Esse outro termo pode ser traduzido por ‘servo’, ‘diácono’ ou ‘o serviçal’. É também um termo que tinha ligação direta com o ‘servo’, o ‘trabalhador’, ‘serviçal’; era aquele servo sempre disponível, ou sempre à disposição do seu senhor, e quando não necessitasse estar à disposição do seu senhor, saía para fazer aquilo que não era feito enquanto estava a serviço de seu senhor. Era o servo que fazia tudo que era para ser feito, fazia os adicionais que nem precisavam ser feitos, fazia o que seu senhor nem havia pedido, mas ele (o servo) sabia que aquilo era do agrado de seu senhor, e depois que terminava o dia ainda cumpria suas responsabilidades pessoais sem prestar relatórios e sem buscar reconhecimento de ninguém e sem reclamação. Esse servo não fazia para aparecer ou para efeito de crédito (quando alguém perguntasse, ele apresentava o que fez), mas fazia de maneira livre e serviçal que é.  
- ‘huperétas’. Pode ser traduzido por ‘servo’, ou ‘remador inferior’. Esse foi outro termo usado pelo apóstolo Paulo que descreve um outro tipo de servo que existia também naqueles dias. Havia naqueles tempos pessoas que trabalhavam nos navios como remadores, e havia nesses navios camadas de remadores. Aquele que ficava na camada de cima não precisava se esforçar muito; havia aqueles remadores que ficavam na camada do meio: também não precisavam se esforçar muito e tinham intervalos maiores de descanso. Mas havia os remadores que ficavam na camada de baixo, que, geralmente não apareciam, eram os que deveriam trabalhar com mais afinco no porão do navio; eram os que mais remavam (não podiam parar), num ambiente abafado e não tinham direito de reclamar. Muitas pessoas são assim: não aparecem, são os que mais se esforçam, tem os piores lugares e recursos para desempenharem suas tarefas, mas não param, desistem ou abandonam seu posto.

            O Apóstolo Paulo era “servo” assim!!!

28.7.15

COMO A CONDUTA DE UMA PESSOA RECAI SOBRE ELA MESMA

(Proibida a Leitura total ou parcial deste escrito por pessoas com Síndrome de Superficialidade ou Leviandade)

COMO A CONDUTA DE UMA PESSOA RECAI SOBRE ELA MESMA

O infiel de coração dos seus próprios caminhos se farta, como do seu próprio proceder, o homem de bem. (Pv. 14:14)

            Temos aqui um princípio simples, com valor igual para duas pessoas que, sob outros aspectos, se contrastam. As pessoas são afetadas pelo curso que adotam; para o bem ou para o mal, sua conduta recai sobre elas mesmas. O infiel e o homem de bem são bem diferentes, mas a ambos se aplica a mesma regra – os dois se fartam do resultado das suas vidas. O desviado fica cheio daquilo que se vê em sua vida e a pessoa boa também fica cheia daquilo que a graça implanta em sua alma. O fermento mau no ímpio leveda todo o seu ser e azeda a sua existência, enquanto a fonte cheia de graça do crente santificado satura sua humanidade e batiza toda a sua vida. Em cada caso a plenitude vem daquilo que está dentro da pessoa e tem a mesma natureza do caráter da pessoa. A plenitude da miséria do infiel será resultado do se estilo de vida, e a plenitude do contentamento e a pessoa boa brotará do amor de Deus que foi derramado em seu coração.

            O efeito dessa passagem ficará  mais claro se começarmos com uma ilustração. Temos aqui duas esponjas, e queremos impregná-las. Se submergirmos a primeira em uma poça de agua podre, ela ficará cheia daquilo que a cerca; se submergirmos a segunda em um riacho de agua límpida, ela também ficará cheia do elemento que a cobre. O infiel está atolado no mar morto dos seus próprios caminhos, e fica cheio de agua salgada; o homem bom é imerso como um jarro no ‘riacho de Siloé que passa junto ao oráculo de Deus’, e o rio da agua da vida o preenche até a borda. Um coração errante fica cheio de tristeza, um coração que confia no Senhor será satisfeito com alegria e paz. Ou imagine dois fazendeiros: um deles planta joio em seus campos e, em pouco tempo, seus galpões estão cheios dele; outro  planta trigo e seus silos ficam estocados com o precioso grão. Você também pode acompanhar a parábola do Senhor/ um construtor coloca sua habitação frágil sobre a areia e, quando a tempestade  cai sobre ela, naturalmente, ele sorri para a tormenta, bem protegido por sua construção. O que alguém é em consequência do seu pecado ou da graça será para ele causa de tristeza ou satisfação.

I. Vou tomar essas duas pessoas sem mais delongas e falar primeiro do infiel. Confio que não haja muitos que são desviados no pior sentido do termo, porem muito, muito poucos dentre nós estão livres da acusação de terem recaído em alguma medida em um momento ou outro depois da sua conversão. Mesmo os que amam sinceramente ao seu Mestre à vezes erram, e todos temos de tomar cuidado para que não haja em nós um coração mau de incredulidade que nos afasta do Deus vivo.
Há diversos tipos de pessoas abrangidos de modo mais ou menos apropriado pelo termo ‘infiéis’, e estes serão cheios das consequências dos seus caminhos, cada um à sua medida.
Em primeiro lugar, há apóstatas, que são os que se unem à igreja de Cristo e agem por algum tempo como se experimentassem uma transformação real de coração. Essas pessoas com frequência são muito zelosas por um período e podem se tornar notáveis, se não destacadas, na igreja de Deus. Eles corriam bem, como aqueles que o apóstolo menciona, mas alguma coisa se interpõe e diminui o seu passo; em seguida eles param e se detém e saem do meio do caminho para ficar à margem da estrada. Primeiro em seus corações eles voltam ao Egito para, assim que encontram uma oportunidade de retornar, escapar a todos os freios da sua profissão de fé e esquecer o Senhor abertamente. Certamente o fim dessas pessoas será pior que o começo. Judas é o grande exemplo destes infiéis destacados. Judas era um crente professo em Jesus, discípulo do Senhor, ministro do evangelho, apóstolo de Cristo, tesoureiro de confiança do grupo dos apóstolos, e acabou se revelando como ‘filho da perdição’, que vendeu seu Mestre por trinta moedas de prata. Há muito que ele estava cheio dos seus caminhos próprios porque, mesmo atormentado pelo remorso, ele jogou fora o dinheiro de sangue que lhe custara tanto para ganhar, enforcou-se e foi para o lugar que merecia.
A história de Judas tem sido reescrita vez após vez na vida dos traidores. Temos ouvido de Judas como diácono ou presbítero; temos ouvido Judas pregar, temos lido as obras de Judas bispo e visto Judas o missionário. Às vezes Judas permanece em sua profissão de fé por anos mas, cedo ou tarde, o verdadeiro caráter do homem se revela. Seu pecado caí sobre sua cabeça e, se não der um fim em si mesmo, não duvido que, às vezes já nesta vida, ele conviva com um remorso tão terrível que sua alma preferiria enforcar-se a viver. Ele colheu as uvas de Gomorra e agora tem de beber o vinho; ele plantou uma árvore amarga e precisa comer o fruto dela. Oh, senhores, que nenhum de nós traia nosso Senhor e Mestre. Que Deus conceda que eu nunca o faça.
O titulo de infiel também se aplica a outro tipo de pessoas, não tão perdidas mas ainda numa condição lamentável, dos quais não Judas mas Davi pode servir como tipo: refiro-me aos que retrocedem para pecado flagrante. Há pessoas que descem da pureza para uma vida descuidada para a permissividade da carne, e da permissividade nas coisas pequenas para pecado consciente, e de um pecado para outro até ficarem submersos na impureza. Eles nasceram de novo e, por isso, a vida trêmula e quase extinta dentro deles precisa e vai reviver e trazê-los ao arrependimento; eles voltarão cansados, chorando, humilhados, com o coração partido, e serão restaurados, mas nunca serão o que eram antes. Sua voz ficará rouca como a de Davi depois do seu crime, pois ele nunca mais cantou com tanto júbilo como nos primeiros dias. A vida será mais cheia de tremor e tribulação e evidente diminuição de ânimo e e alegria de espírito. É penoso andar com ossos quebrados e, mesmo depois que eles são recolocados no lugar, eles costumam sentir pontadas de dor quando o tempo fica ruim. Posso estar falando para alguns assim e, neste caso, quero falar com um amor muito fiel. Querido irmão, se você está seguindo a Jesus de longe, em pouco tempo você irá traí-lo como Pedro o fez. Mesmo que você alcance misericórdia do Senhor, certamente o texto se cumprirá e você ‘se fartará dos seus próprios caminhos’. Tão certo como Moisés tomou o bezerro de ouro e o moeu até virar pó, que misturou a agua que os israelitas pecadores tiveram de beber até todos sentirem o gosto de areia na boca, assim o Senhor fará com você, se você é de fato seu filho: ele tornará seu ídolo de pecado e o moerá até virar pó, e sua vida será tornada amarga por ele por muitos anos. Quando o amargor e a amargura ficarem mais evidentes no cálice da vida, será triste reconhecer que “eu consegui isto para mim com minha tolice vergonhosa.”
Se Davi pudesse levantar do seu túmulo e aparecer diante de vocês com seu rosto sulcado de tristeza e sua testa vincada por seu sofrimento, ele lhes diria: “Cuidem diligentemente dos seus corações, para não trazerem castigo para si mesmos. Vigiem com oração, e se guardem do inicio do pecado, para que seus ossos não envelheçam com seus gemidos e seu vigor se torne em sequidão de estio”. Proteja-se de um coração errante, porque será uma coisa terrível ficar cheio das próprias recaídas.
Existe um terceiro tipo de infidelidade, e eu temo que um grande número dentre nós já mereceu este título. Estou pensando naqueles que, em qualquer grau ou medida, mesmo que por pouco tempo, retrocedem do ponto que já tinham alcançado. Talvez uma pessoa assim nem deveria ser chamada de infiel porque este não é o seu caráter predominante, mas ela retrocedeu. Se não crê com a mesma firmeza de antes, não ama com a mesma intensidade, não serve com o mesmo zelo, então a pessoa se tornou infiel em certo sentido, e a infidelidade em qualquer sentido é pecado e nos encherá na mesma medida com as suas consequências. Se você semeia só duas ou três sementes de espinheiro, não haverá tantos cardos em sua fazenda como se você esvaziasse um saco inteiro mas, mesmo assim, haverá o suficiente e até mais. Cada pequena recaída, como as pessoas a chamam, é um grande mal; todo pequeno desvio de Deus, mesmo só no coração, sem jamais se manifestar em palavras ou atos, nos trará alguma medida de tristeza. Se todo o pecado fosse removido do nosso ser a tristeza também seria e, na verdade, estaríamos no céu, porque um estado de santidade perfeita equivale à bênção perfeita. O pecado em qualquer grau dará seu fruto próprio, e este fruto cedo ou tarde mostrará as suas garras; por isso é mau seu ser infiel, mesmo no menor grau.
Dito isto, continuemos a reflexão sobre os últimos dois tipos de infiéis, deixando de fora o apóstata. Leiamos novamente o seu nome, e depois sua história; temos ambos em nosso texto.
A primeira parte do seu nome é “infiel”, “aquele que se desvia”. Ele não sai correndo, nem pula para longe, mas desvia-se, escorregando, deslizando com um movimento suave, sem esforço, fácil, silencioso, talvez imperceptível para ele mesmo ou para as outras pessoas. A vida cristã é muito parecida com subir uma montanha coberta de neve. Você não pode escorregar para cima; terá de fazer buracos para firmar o pé, e só poderá fazer progressos com muito trabalho e cuidado; precisará de um guia para ajuda-lo, e não estará seguro de cair numa fenda se não estiver preso no guia. Ninguém escorrega para cima; mas, se não tomar cuidado, poderá escorregar para baixo, em outras palavras, desviar-se, a resposta é: pare de avançar, e você deslizará para trás; deixe de subir e você descerá necessariamente, pois não é possível ficar parado. Para nos induzir a recair, Satanás age conosco como engenheiros fazem com uma estrada morro abaixo. Para construir uma estrada lá do divisor de aguas até o vale, eles nem pensam em fazê-la despencar por um precipício ou descer um paredão a pique, porque ninguém usaria uma estrada assim. Eles a fazem dar voltas e curvas. A trilha desce um pouquinho para a direita, você quase nem percebe a inclinação; depois ela vai para a esquerda e sobe um pouquinho. Assim, curvando para lá e para cá, o viajante acaba lá em baixo no vale. Da mesma maneira o astuto inimigo das almas tira os santos lá dos seus lugares altos: geralmente quando ele consegue fazer um homem bom descer, foi de pouco em pouco. De vez em quando, com uma oportunidade repentina e uma tentação forte, o cristão pode ser derrubado de repente direto do pináculo do templo para o calabouço do desespero, mas isto não é muito frequente; a obra de engenharia favorita do diabo é a inclinação suave, e ele é muito hábil em construí-la. A alma quase não percebe que está descendo, parece-lhe que está mantendo o nível da sua caminhada, mas antes que se dê conta está bem abaixo da linha de paz e consagração.
Pense mais uma vez no nome desta pessoa. Ela tornou-se “infiel”, mas desviou-se do quê? Ela conhece a doçura das coisas de Deus e, mesmo assim, para de alimentar-se delas. É alguém que teve o privilégio de sentar-se à mesa do Senhor e, mesmo assim, desertou de seu lugar honroso, desviou-se das coisas que conheceu, sentiu, saboreou, tocou, se alegrou – as coisas que são os presentes sem preço de Deus. Ele decaiu da condição em que vivia o céu aqui em baixo; foi infiel ao amor daquele que o comprou com seu sangue; afastou-se das feridas Cristo, da obra do Espírito Eterno, da coroa da vida que paira sobre sua cabeça e de um relacionamento familiar com Deus que os anjos invejavam. Se não fosse tão altamente favorecido, não poderia tornar-se tão perverso. Que tolo e lerdo de coração para desviar-se da riqueza par a pobreza, da saúde para a doença, da liberdade para a escravidão, da luz para as trevas; do amor de Deus, de estar em Cristo e da comunhão com o Espírito Santo para a mornidão, mundanismo e pecado.
O texto, contudo, dá ao nome da pessoa uma amplitude maior: “o infiel de coração.” O coração é a fonte de todo mal. Ninguém precisa desviar-se ativamente para ver o texto cumprir-se nele; só precisa ser infiel no coração. Toda infidelidade começa lá dentro, começa quando o coração fica morno, quando o amor de Cristo tem menos poder na alma. Talvez você pense que, enquanto a infidelidade ficar confinada ao coração, ela não é tão importante. No entanto, pense por um instante, e você confessará seu erro. Se você fosse ao médico e dissesse: “Senhor, sinto uma dor forte no corpo”, será que você ficaria confortado se ele respondesse: “Não há uma causa local para o seu sofrimento; ele deriva completamente da doença do coração”? Você não ficaria ainda mais alarmado? Qualquer caso é grave quando envolve o coração. O coração é difícil de alcançar e difícil de compreender e, além disso, ele tem tanto poder sobre o resto do sistema e tanto potencial de fazer mal a todos os membros do corpo, que uma doença no coração é um defeito num órgão vital, uma poluição da fonte de vida. Um ferimento ali se iguala a mil feridas, um ataque paralisa todos os membros. Portanto, olhem bem para seus corações e orem: “Ó Senhor, limpa os cantos secretos do nosso espírito e preserva-nos para teu eterno reino e glória”!
Leiamos agora a história desta pessoa: “O infiel de coração dos seus próprios caminhos se farta.” Disto fica claro que ele está recaindo para caminhos próprios. Quando estava na condição correta ele seguia os caminhos do Senhor, alegrava-se na lei do Senhor e lhe dava o que o coração desejava. Agora ele tem caminhos próprios, que prefere aos do Senhor. Qual é o resultado dessa perversidade? Será que ele vai prosperar? Não; não vai demorar até que ele fique farto dos seus próprios caminhos. Vejamos o que isto significa.
A primeira maneira de fartar-se dos seus próprios caminhos é ficar absorvido por interesses carnais. A pessoa não a tem mais muito tempo para assuntos espirituais; tem outras coisas para fazer. Se você lhe fala das coisas profundas de Deus, ele se cansa de você e não que mais ouvir nem dos cuidados diários com as coisas de Deus, no máximo ele vai ao culto. Ele precisa cuidar dos seus negócios, ou participar de um jantar, ou receberá visita de alguns amigos. Em qualquer caso sua resposta a você será: ”Peço que me tenhas por escusado.” Acontece que esta pré-ocupação com ninharias é sempre enganosa porque, quando o coração está cheio de palha, não sobra espaço para trigo; quando toda a mente está ocupada com frivolidades, as questões de peso para a eternidade não podem entrar. Muitos cristãos professos passam tempo demais com entretenimentos que eles chamam de higiene mental, mas que, temo eu, deixa sua mente mais suja do que limpa. Os prazeres, cuidados, interesses e ambições do mundo incham no coração depois que entram, até preenchê-lo completamente. Como o chupim no ninho do pardal, o mundanismo cresce e cresce e se empenha por expulsar o verdadeiro dono do coração. Se sua alma está cheia de qualquer coisa que não com Cristo, você está em má situação.
Os infiéis geralmente avançam mais um passo e fartam-se dos seus caminhos ao começar a orgulhar-se com sua condição e gloriar-se em sua vergonha. Não que estejam realmente satisfeitos no coração, pelo contrário; eles suspeitam que as coisas não são bem como deveriam ser e, por isso, assumem uma postura ousada e tentam iludir a si mesmos e aos outros. É bastante perigoso chamar sua atenção para suas falhas, porque não aceitarão sua repreensão, ante se defenderão e poderão até levar a guerra para o seu lado: “Você é puritano, mente fechada, legalista, e sua conduta e estilo de vida fazem mais mal do que bem.” Eles dizem que jamais educarão seus filhos como você. Eles enchem a boca porque seus corações estão vazios, e eles se defendem em voz alta porque sua consciência está fazendo um grande agito dentro deles. Chamam de prazer pecaminoso quando se afrouxa um pouco as rédeas, chamam a ganancia de prudência, a cobiça de economia, a desonestidade de esperteza. É assustador pensar que pessoas que deveriam saber que mais ardoroso de uma prática pecaminosa é o que tem mais problemas de consciência com ela. Ele sabe que não está vivendo como deveria, mas não está disposto a reconhecê-lo, de jeito nenhum se puder evita-lo. Ele está farto com seus caminhos, ostentando contentamento.
Não tarda muito e sua fartura alcança outro estágio, porque, se o infiel está sob a graça, ele acha seu castigo, e isto de uma vara que ele mesmo fez. Passa muito tempo até que você possa comer pão do trigo que você plantou; a terra precisa ser arada e semeada, o trigo precisa crescer, amadurecer e ser colhido, descascado e moído, a farinha precisa ser amassada e assada. No fim, o pão é trazido à mesa e pode ser comido. O mesmo acontece com o fruto dos caminhos do infiel, que ele vai comer. “Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará.” Agora veja o desviado colhendo os frutos dos seus caminhos: ele negligenciou a oração e, quando quer orar, não consegue; seus desejos, emoções, fé e súplicas falham; ele fica ajoelhado por algum tempo, mas não consegue orar; o  Espírito de súplicas está triste e não o ajuda mais em sua fraqueza. Ele toma sua Bíblia, começa a ler um capítulo, mas desconsiderou a palavra de Deus por tanto tempo que ela lhe parece mais uma carta morta que uma voz viva, mesmo que ele a fora um livro doce antes que ele se desviasse. O pastor também está diferente: antes tinha prazer em ouvi-lo, mas agora o pobre pregador perdeu todo o antigo poder, na opinião do infiel. Outras pessoas não pensam assim, o salão está lotado, há tantos santos edificados e pecadores salvos como antes. Porém o infiel de coração começou a criticar e agora está preso ao hábito, critica tudo e não se alimenta da verdade. Como um louco à mesa ele mete o seu garfo na panela, ergue-o, olha para ele, acha defeito nele e o joga no chão. Ele também não se comporta melhor na companhia dos santos de que antes gostava: eles são companheiros insossos e ele os evita. Ele está cansado de todas as coisas que contribuem para vida espiritual, ele desfez deles e agora não tem mais prazer neles. Ouça-o cantar, ou melhor, suspirar:
            Teu povo está feliz, eu sei,
            Pois gostam de orar;
            Às vezes eu vou lá também,
            Mas sem me alegrar.
Como poderia ser diferente? Ele está bebendo agua da sua própria cisterna e comendo pão de um trigo que ele semeou anos atrás. Seus caminhos o acharam.
O castigo também resulta de seus atos em outras áreas. Ele foi muito mundano e organizava festas alegres, e agora suas filhas cresceram e o entristecem com sua conduta. Ele também cometeu pecados, e agora que seus filhos seguem seu exemplo, o que ele pode dizer? Ele pode admirar? Veja o caso de Davi. Davi caiu em pecado grave, e logo seu filho Amnom competiu com ele em maldade. Davi matou rias, o heteu, e Absalão matou seu irmão Amnom. Davi se rebelou contra Deus, e eis que Absalão levantou o estandarte da revolta contra ele. Davi destruiu o relacionamento da família de outro homem de maneira desgraçada, e eis que sua família foi feita em pedaços e nunca mais voltou à paz. Até em seu leito de morte ele teve de dizer: “Não está assim com Deus a minha casa.” Ele se fartou dos seus próprios caminhos. Sempre será assim, mesmo se o pecado já foi esquecido. Se você soltou uma pomba ou um corvo da arca da sua alma, eles voltarão a você assim como você os soltou. Que Deus nos proteja de sermos infiéis, para que correnteza suave da nossa vida não se transforme uma enxurrada terrível de desgraça.
O quarto estágio, bendito seja Deus, afinal é alcançado por homens e mulheres debaixo da graça. Que misericórdia que eles o alcançaram! Aqueles são fartos dos seus próprios caminhos em outro sentido: são fartos mas continuam insatisfeitos, miseráveis e descontentes. Buscaram o mundo e o acharam, mas ele agora perdeu toda a atratividade. Foram atrás de amantes, mas esses enganadores os iludiram, e eles torcem as mãos e dizem: “Tornares para o meu primeiro marido, porque melhor me ia então do que agora.” Muitos viveram à distancia de Jesus Cristo, mas agora já não o podem suportar; não são felizes enquanto não retornam. Ouça-os clamar nas palavras do Sl. 51: “Restitui-me a alegria da tua salvação e sustenta-me com um espírito voluntário.” Todavia, eu lhes digo que não poderão voltar de modo fácil. É difícil fazer de volta o caminho do desvio, mesmo que seja curto; andar segunda vez pelo caminho é muito mais difícil que a primeira.
Amados amigos, vamos todos direto para a cruz, de medo de nos desviarmos:
            Volte-se para o Senhor Deus,
            Contrito coração;
            Ele, a quem se arrependeu,
            Dá graça e perdão.
Confessemos toda forma e grau de infidelidade, todo desvio do coração, toda diminuição do amor, todo enfraquecimento da fé, todo esmorecimento do zelo, todo entorpecimento do anseio, toda falha de confiança. O Senhor nos diz: “Voltem”; portanto, voltemos. Mesmo se não fomos infiéis, acheguemo-nos à cruz como penitentes sinceros, pois é bom permanecer ali para sempre. Ó Espírito do Deus vivo, mantém-nos em contrição de fé por todos os nossos dias.

II. Só tenho pouco tempo para a segunda parte do meu assunto. Por isso, desculpem-me se não tento aprofundar-me muito nele. Assim como é verdade que o desviado se farta do que está dentro dele e da sua maldade, também é verdade que o cristão que anda nos caminhos da justiça e da fé se torna farto e contente. Aquilo que a graça colocou nele o fartará no devido tempo.
Aqui, então, temos o nome e a história do homem de bem.
Veja primeiro como o chamamos. É digno de nota que, assim como o desviado geralmente não vai atender se você o chama pelo nome, também o homem de bem não aceitará o título que lhe é dado aqui. Onde está o homem de bem? Eu sei que qualquer pessoa aqui que está em ordem com Deus vai passar a pergunta, dizendo: “Ninguém é bom senão um, que é Deus.” Os bons também questionarão meu texto assim: “Não consigo mesmo”; nenhuma pessoa realmente boa jamais ficou satisfeita consigo mesma e, se começa a falar como se estivesse, está na hora de duvidar se ela sabe do que está falando. Todas as pessoas boas que eu encontrei sempre queriam ser melhores; ansiavam por algo mais elevado do que tinham alcançado até ali. Não concordariam que estão satisfeitas, e certamente não estão mesmo. O texto não diz que elas estão, mas diz algo tão parecido que todo cuidado é pouco. Se eu, esta manha, disser que uma pessoa boa olha dentro de si e fica satisfeita com o que encontra, deixem-me dizer logo que de forma alguma tenho algo assim em mente. E gostaria de dizer exatamente o que o texto diz, mas não sei se vou conseguir a não ser que vocês me ajudem não entendendo mal, mesmo tendo uma tentação forte em fazê-lo.
 Esta é a história do homem de bem. Ele “se farta do seu proceder”, mas primeiro tenho de ler novamente o seu nome. Mesmo sem merecer, para que ele serve? Ele responde: “Para nada”, mas na verdade ele serve para muita coisa, quando o Senhor o usa. Lembre-se que ele é bom porque o Senhor o criou de novo pelo Espírito Santo. Não é este o bem que o Senhor faz? Quando ele criou a natureza, a primeira coisa que disse de todas as coisas é que eram muito boas. Como poderiam ser outra coisa, se foi ele quem as fez? Assim, na nova criação, um coração novo e um espirito direito são de Deus e devem ser bons. Onde há graça no coração, a graça é boa e torna o coração bom. Alguém que tem em si a retidão de Jesus e a presença do Espírito Santo é bom aos olhos de Deus.
Um homem de bem está do lado do bem. Se eu perguntasse quem está do lado do bem, ninguém passaria a pergunta adiante. Daríamos um passo à frente para dizer: “Eu estou. Não sou tudo o que deveria ser, ou gostaria de ser, mas estou do lado da justiça, da verdade e da santidade. Quero viver para promover a bondade e até morrer antes de me tornar defensor do mal.” O que é a pessoa que ama o que é bom? Será que é má? Acredito que não. Quem de verdade ama o que é bom deve ser bom pelo menos em certa medida. Quem é que luta pelo bem e geme e suspira com seus fracassos, e orienta sua vida diária pelas leis de Deus? Não são esta as melhores pessoas do mundo? Tenho certeza, sem orgulho, que a graça de Deus tornou alguns de nós bons neste sentido, porque o que o Espírito de Deus fez é bom e se nós somos novas criaturas em Cristo, não podemos contradizer Salomão nem criticar a Bíblia se ela diz que pessoas assim são boas, mesmo que não nos arrisquemos de dizer que somos bons.
A história do homem de bem, então, é que “ele se farta do seu proceder”.
Isto significa, em primeiro lugar, que ele é independente das circunstâncias externas. Sua satisfação não deriva do sobrenome, de honras ou propriedades; o que o enche de contentamento está dentro dele. O hino que cantamos o descreve muito bem:
            Não necessito procurar
            Prazeres, diversão:
            Tenho uma festa em meu lar,
            Em paz o coração.

            Do céu a Pomba se dispôs
            No peito meu morar:
            Descanso dar ao interior,
Do amor testemunhar.
           
            Outras pessoas precisam trazer musica de fora, quando o conseguem, mas no peito de quem está sob a graça vive um passarinho que lhe canta com doçura. Em seu próprio jardim ele tem uma flor mais suave que qualquer outra que pudesse comprar no mercado ou encontrar no palácio do rei. Ele pode ser pobre, mesmo assim não trocaria sua propriedade no reino do céu por toda a pompa dos ricos. Sua alegria e paz nem mesmo dependem da saúde do seu corpo. Muitas vezes ele está bem no espírito, mas doente na carne; com frequência está cheio de dores, mas perfeitamente satisfeito. Ele pode ter uma doença incurável que ele sabe que encurtará e no fim acabará com sua vida, mas ele não procura satisfação nesta pobre vida, ele traz dentro de si aquilo que cria a alegria imortal: o amor de Deus derramado em seu espírito pelo Espírito Santo exala um perfume mais agradável que as flores do paraíso. A fartura do texto está em parte em que o homem de bem independe do que o cerca.
            Ele também independe dos elogios dos outros. O infiel se sente bem porque o pastor e aos amigos cristãos tem um bom conceito dele, mas o cristão genuíno que vive perto de Deus dá pouco valor à opinião das pessoas. Sua preocupação principal não é com o que os outros pensam dele; ele tem certeza de ser um filho de Deus, ele sabe que pode dizer: “Aba, Pai.” Ele se alegra que para ele a vida é Cristo e a morte é lucro; por isso ele não precisa da aprovação dos outros para sustentar sua confiança. Ele corre sozinho e não precisa ser carregado como uma criança doentia. Ele sabe em que creu, e seu coração repousa em Jesus. Por isso ele está satisfeito, não por causa das outras pessoas e do julgamento delas, mas “do seu proceder”.
            Além disso, o cristão está contente com a fonte que jorra agua da vida que o Senhor colocou dentro dele. Ali, no alto do monte eterno, está o reservatório divino da graça todo-suficiente, e aqui em baixo em nosso peito está a fonte que borbulha para a vida eterna. Ela tem jorrado em alguns de nós nestes vinte e cinco anos, e por quê? O grande segredo é que há uma conexão desimpedida entre a pequena fonte dentro do peito renovado e o vasto lençol freático (os imensos reservatórios subterrâneos agua) de Deus; por isso a fonte nunca seca, no inverno e no verão não para de fluir. Agora, se vocês me perguntarem se não estou satisfeito com a fonte em minha alma, alimentada da todo suficiência de Deus, eu digo que não, não estou? Se vocês, caso fosse possível, cortassem a ligação que há entre a minha alma e meu Senhor, eu entraria em desespero. Como ninguém pode me separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus nosso Senhor, estou satisfeito e tranquilo. Somos como Naftali, que “goza de favores” e está cheio da benção do Senhor”.
            No coração do homem de bem está a fé, e ele está satisfeito com o que a fé lhe traz, porque lhe proporciona o perdão total dos seus pecados. A fé o traz para mais perto de Cristo. A fé faz com que ele seja adotado na família de Deus. A fé lhe garante a vitória sobre as tentações. A fé lhe dá tudo o que ele precisa. Ele  descobre isso ao crer que tem todas as benção da aliança para cada dia. Esta graça rica realmente o deixa farto. O justo vive pela fé.
            Depois da fé, ele tem outra graça que o satisfaz chamada esperança. Que lhe revela o mundo futuro e lhe dá segurança de que, quando adormecer, dormirá em Jesus, e que, quando acordar, reviverá semelhante a Jesus. A esperança o alegra com a promessa de que seu corpo ressuscitará e que, em sua carne, verá a Deus. Essa sua esperança escancara-lhe as portas de pérolas, desvenda as ruas de ouro e deixa ouvir a musica dos harpistas celestiais. Com certeza pode-se ficar satisfeito disto.
            O coração consagrado a Deus também se farta do que o amor lhe traz, pois o amor, embora se pareça com uma moça frágil, é forte como um gigante e, em alguns aspectos, se torna a mais poderosa de todas as graças. O amor primeiro desabrocha como as flores ao sol, bebendo do amor de Deus, para depois se regozijar em Deus e cantar:
                        Sou tão feliz com o amor de Jesus.
            Ele ama a Jesus, e há uma troca de contentamento entre o amor da alma por Cristo e o amor de Cristo por ela, que o próprio céu dificilmente será mais precioso. Quem conhece este amor profundo e misterioso ficará mais do que pleno dele; precisará ser alargado para conter a benção que ele cria. Podemos conhecer o amor de Jesus, mas ele ultrapassa o conhecimento: ele enche toda a pessoa, não deixando mais espaço para o amor idólatra da criatura; ele está satisfeito consigo mesmo e não pede outra alegria.
            Amados, quando o homem de bem é capacitado pela graça divina a viver em obediência a Deus, ele irá, como consequência necessária, gozar de paz interior. Sua esperança está em Jesus, mas – a vida que evidencia que ele tem a salvação – contribui com muitos ingredientes gostosos para este cálice. Aquele que toma sobre si o jugo de Cristo e aprende dele, encontra descanso para a sua alma. Quando guardamos seus mandamentos, experimentamos conscientemente o seu amor, o que não é possível quando nos opomos à sua vontade. Saber que você agiu com uma motivação pura, saber que você fez o que era certo é uma das melhores razões de estar satisfeito. O que importa a carranca dos inimigos ou o preconceito dos amigos, se você ouve dentro o testemunho de um a boa consciência? Nós não nos atrevemos a confiar em nossas próprias obras, nem temos desejo ou necessidade de fazê-lo, pois nosso Senhor Jesus nos salvou para sempre; “a nossa glória é esta: o testemunho da nossa consciência, de que, com santidade e sinceridade de Deus, não com sabedoria humana, mas, na graça divina, temos vivido no mundo”.


                                               Extraido de Spurgeon’s sermons
                                               Compilado por Isac Pereira

                                   

16.7.15

CARREGADOS DE QUÊ?

            “E olhai por vós, para que não aconteça que o vosso coração se carregue de glutonaria, de embriaguez, e dos cuidados da vida, e venha sobre vós de improviso aquele dia.
Porque virá como um laço sobre todos os que habitam na face de toda a terra.
Vigiai, pois, em todo o tempo, orando, para que sejais havidos por dignos de evitar todas essas coisas que hão de acontecer e de estar em pé diante do Filho do Homem.”                                                                                 Lc. 21:34-36

            Parece uma afirmação forte que Jesus fez acerca das possibilidade e da vivência dos homens dos seus dias. Era o sermão que falava dos últimos acontecimentos e de como as pessoas estariam vivendo.

I – CONTEÚDOS DO CARREGAMENTO
a) Glutonaria v. 34 ‘para que não aconteça que o vosso coração se carregue de glutonaria,’ – os excessos tanto de um como de outro lado.
b) Embriaguez v. 34 ‘...de embriaguez...’ – daquilo que tira a lucidez
c) Cuidados da vida v. 34 ‘e dos cuidados da vida,’ – cuidado com isso, cuidado com aquilo, cuidado com sua aparência, cuidado... cuidado...
d) Desapercebido v. 34 ‘e venha sobre vós de improviso aquele dia’

II – O CARREGAMENTO PODE SER UM LAÇO
a) Repentino v. 34 ‘...e venha sobre vós de improviso aquele dia.’ 
b) Sobre todos v. 35 ‘Porque virá como um laço sobre todos...’  
c) Em todos os lugares v.35 ‘...sobre todos os que habitam na face de toda a terra.’  

III – A MUNIÇÃO USADA CONTRA O CARREGAMENTO
a) Vigilância vs.34 e 36 ‘E olhai por vós’- v.36 ‘Vigiai, pois, em todo o tempo...’  
b) Fechamento de todas oportunidades v.34 ‘para que não aconteça que o vosso coração se carregue...’   
c) Oração v. 36 ‘...orando...’
d) Dignidade v. 36 ‘... para que sejais havidos por dignos de evitar todas essas coisas que hão de acontecer...’          
e) Ereção v. 36 ‘... e de estar em pé diante do Filho do Homem.’ (paráptoma – é o pecado de ‘cair’ quando deveria permanecer em pé)

CONCLUSÃO:- Quando vivemos carregados, aprendemos:
1) Que os conteúdos do carregamento terão grande peso sobre os acontecimentos em nossa vida;
2) Que eu posso e devo ficar livre desses carregamentos porque senão eles se tornarão um laço para mim.
3) Que existem ferramentas e munição apropriadas que me fazem evitar todas essas coisas que hão de acontecer;
4) Que devo buscar em Jesus forças e criar em mim disposição para ficar longe dessas coisas.