11.3.15

OS JOVENS, O HOLOCAUSTO E OS DIREITOS HUMANOS

“A maior represália contra um inimigo é perdoá-lo. Se o perdoamos, ele morre como inimigo e renasce a nossa paz. O perdão nutre a tolerância e a sabedoria...”.
Augusto Cury

Mario não respeitava muito o direito dos outros. O mundo tinha de girar em torno dele. Um dia, começou a conversar alto com os amigos no fundo da classe. Ninguém conseguia prestar atenção no que a professora Maria Lúcia ensinava. Ela pediu silêncio, mas ele não se importou. De repente, ela chamou sua atenção e ele a enfrentou, gritando: “Você não manda em mim!”
A professora sabia lidar com os conflitos em sala de aula. Ao invés de ficar agressiva ou chateada, protegeu-se. Não permitiu que a agressividade do seu aluno invadisse sua emoção. Sabia que o desrespeito que ele apresentava em classe não era com ela, mas revelava um problema que ele tinha dentro de si. Mário não respeitava os outros porque não sabia se respeitar.
Todos esperavam que ela o mandasse para fora da classe ou lhe desse uma grande bronca. Mas, ao invés disso, ela o olhou fixamente e, posteriormente, para toda classe. Em seguida, interrompeu a aula e contou uma breve história que parecia que não tinha nada a ver com o acontecido. Uma história que falava sobre os direitos humanos. Ela sabia educar a emoção dos jovens.
Disse-lhes: “Vou contar uma triste história, mas muito importante para que possamos aprender algumas lições de vida: a história do holocausto judeu. Uma história em que os direitos humanos foram completamente destruídos”.
Comentou que durante a Segunda Guerra Mundial, na Alemanha e em muitos países da Europa, os judeus e outras minorias perderam todos os seus direitos. Os nazistas, que eram do partido de Hitler, queriam exterminar com todos os judeus, como se eles não fizessem parte da espécie humana. Foi uma coisa horrível.
Muitos judeus foram enviados para os campos de concentração, um depósito humano, pior do que um chiqueiro. Faltava comida, água e cama. Eles emagreceram tanto que ficaram pele e ossos. Muitos pais foram separados dos seus filhos. Lágrimas encharcaram aqueles solos.
Será que pelo menos os jovens e as crianças judias foram bem tratados? Não! Receberam um tratamento pior do que os nazistas davam aos animais. Eles foram retirados das suas casas com violência. Não podiam andar nas ruas, comprar, ter amigos e ir para a escola. Não podiam beijar seus pais, ter o carinho de suas mães. Perderam tudo. Nunca se viram crianças tão tristes...
Por fim, foram aprisionadas nos campos de concentração. Foi dramático. Elas choravam alto, mas ninguém as ouvia. Sentiam dores, mas ninguém as aliviava. Passava frio, mas ninguém as aquecia. Gemiam de fome, mas ninguém as saciava. Um pedaço de pão era um paraíso. Muitos jovens de hoje tem fartura de alimentos, mas a desprezam.
Por fim, o resultado não poderia ser mais triste: mais de um milhão de crianças e adolescentes judias morreram. Imagine o desespero que viveu cada um desses pequenos e belos seres humanos. O mundo nunca mais foi o mesmo. O holocausto na Segunda Grande Guerra foi milhares de vezes pior do que o ataque terrorista em 11 de Setembro de 2001.
Nossa história foi manchada para sempre. A viabilidade de nossa espécie foi questionada. Infelizmente, até hoje, os homens se matam por muito pouco. Eles não aprenderam lições na escola da vida. A primeira lição dessa escola é que a vida está acima das nossas diferenças. A segunda é que acima de sermos judeus, árabes, americanos, africanos, somos apenas uma única espécie.
Nunca as crianças e os adolescentes foram tão violentados na história como no holocausto. Roubaram-lhes o direito de viver. Porém, nem todos morreram vitimas do nazismo. Havia um jovem chamado Victor Frankl que estava num dos campos de concentração. Ele também foi abatido pela fome, pelo frio e pelo medo. Seus olhos fundos e sofridos viviam assustados.
Mas Victor Frankl via algo além das trincheiras. Enxergava por detrás das cercas de arames, dos cães e dos guardas. Via as flores das primaveras num árido deserto. Via as estrelas no céu numa noite sombria. Alimentava sua alma de uma esperança divina. Sonhou com um mundo livre mesmo diante da morte. Por fim, conseguiu sair vivo de lá. Saiu do cárcere para brilhar no mundo.
Ele se tornou um dos principais pensadores da psicologia da segunda metade do século XX. Seus pensamentos são saturados de esperança. Para ele, a busca do sentido de vida e de Deus devia ocupar a mente e espírito humano.
Ele aprendeu a dar um significado à sua vida quando a vida valia menos do que nada. Por isso podemos dizer que a vida humana é tão criativa que mesmo na terra do holocausto, a dor ainda conseguiu inspirar algumas belas poesias. O deserto ainda produziu algumas belíssimas flores. Victor Frankl foi uma delas. Mas não foi a única.
Vocês sabem quem ganhou o premio Nobel de literatura de 2002? Também foi um judeu, vitima das atrocidades do nazismo. Seu nome é Imre Kertész. A dor, o drama, a miséria do jovem Imre Kertész não o destruiu. Pelo contrário, o fez um mestre da literatura.
Quando Maria Lúcia terminou de contar essa história, os alunos estavam completamente em silêncio. Alguns até choraram. Mário estava emudecido. Então ela, delicadamente, voltou-se para ele e disse: “Você vive num mundo livre. Tem todos os direitos de um jovem. Tem onde dormir, o que comer, pode andar, sair, ter amigos. Mas será que sabe valorizar seus direitos?”.
Mário não deu resposta. Sua voz estava embargada. Em seguida, a professora completou: “Será que você ama a sua liberdade? Será que não está ferindo o direito dos outros quando reage com agressividade?” Em seguida, continuou sua aula.
Mário pensou. Nunca havia se questionado tanto. Ele foi embora da escola refletindo sobre tudo o que ouvira. Nunca tinha pensado nos muitos jovens que tinham morrido de maneira tão violenta, sem ter seus direitos minimamente respeitados. Jamais pensara que a liberdade fosse tão importante.
Ele entendeu, então, o que era a democracia. Compreendeu que tinha grandes direitos, mas também importantes deveres. Não percebia que quando tumultuava a sala de aula estava perturbando os direitos dos outros. Quando ofendia a professora, ele estava ferindo os direitos dela.
Maria Lúcia era professora de Línguas. Estava preocupada não apenas com que os alunos aprendessem à gramática e outras regras da língua, mas almejava que eles aprendessem a valorizar a liberdade e conhecessem as regras que fundamentam as relações sociais. Ela amava a escola da vida, por isso ensinava seus alunos a viver.
A professora ficou tão entusiasmada com o interesse dos alunos pelo holocausto que preparou para eles uma aula especifica sobre direitos humanos. Queria que seus alunos, um dia, fossem capazes de contribuir para melhorar o mundo, aliviar as injustiças humanas. Eis o resumo dessa aula:
A expressão “Direitos Humanos” ganhou mais significado após as revoluções francesa e americana. De forma simples, pode-se dizer que essa expressão se refere aos direitos de uma pessoa nas suas relações com as outras e com a natureza. A questão da liberdade está diretamente ligada aos direitos humanos. Já no século V, Sófocles falou indiretamente sobre eles. Desde então, o desenvolvimento dessa idéia continua a se desenrolar.
Os grandes momentos em que as chamas dos direitos humanos foram mais fortes estão na Declaração de Independência dos Estados Unidos, de 1776; na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, na França, de 1789; e na Declaração Universal dos Direitos Humanos aprovada em 1948 pela ONU (Organização das Nações Unidas). O dia 10 de dezembro é o Dia Universal dos Direitos Humanos. Guarde essa data.
A professora mandou um recado a cada um dos seus alunos: “Parabéns, você tem muitos direitos na grande escola da vida. Por isso pode cantar, brincar, andar, correr, comprar, estudar e expressar suas idéias livremente. Mas nunca se esqueça de que você só pode exercer os seus direitos se respeitar os direitos dos outros...”
E finalizou dizendo: “Os direitos humanos são tão importantes que eles representam o aplauso do artista, a água do sedento, a inspiração do poeta, o amor do romance.

Os direitos humanos não podem estar apenas na lei, devem ser tecidos na alma e esculpidos no coração...”

 

Há duas maneiras de se fazer uma fogueira: com sementes ou com madeira seca. Qual você prefere? Muitos preferem amadeira seca. Através dela podem fazer rapidamente uma fogueira e se aquecer. Mas um dia a madeira acaba e eles continuam a ser vitimas do frio.
Qual a melhor opção? As sementes. Se você a escolheu, parabéns! Por quê? Plantando as sementes, você terá uma floresta e nunca irá lhe faltar madeira para se aquecer. Não queira tudo na hora. Os resultados rápidos são efêmeros, temporários.
Plante as sementes na sua escola, no trabalho, no namoro, entre seus amigos. Plante sementes para ser um extraordinário ser humano, um fantástico estudante, um fascinante profissional... Prefira as sementes.

Como ninguém é de ferro, aqui vai uma piada do professor Estressildo: “Você é tão lindo(a) como eu! Seu espelho é que está com defeito!”