9.2.17

A ESCOLA DO FUTURO

            Voltando de uma reunião de liderança onde foram discutidos vários assuntos pertinentes, veio a preocupação com a Escola Bíblica que algumas Igrejas ainda conservam. Colegas vieram abordar como fazer para insuflar um ânimo novo e refazer aquela escola que sobreviveu ao longo desses mais de 230 anos, criação de Robert Raikes, quando na Inglaterra começou a partir de uma necessidade local e muito personalizada. Raikes sentiu que precisava assistir algumas crianças pobres que trabalhavam a semana toda e aos domingos ficavam nas ruas sem ter o que fazer. Não imaginava a repercussão daquela preocupação aparentemente simples. Ainda em nossos dias alguns lideres vem sofrendo com a decadente frequência com que as escolas bíblicas estão enfrentando.
            Não somente a Escola Bíblica passa por esse momento, mas também a escola secular.  Entender essa transição fazendo uma leitura do novo caminho que esse modelo percorre deve ser a reflexão dos líderes, professores, diretores, pastores e pessoas ligadas à educação. De certa forma as mudanças estão transcorrendo e quer queiramos ou não, aquele modelo antigo das salas de aula, a fila (chamada burra) das carteiras, uma pessoa falando, falando à frente do grupo, a velha e antiga lousa já tem seus dias contados. Com o advento da tecnologia, onde as pessoas carregam as informações dentro do bolso por onde vão, precisamos ficar cientes que a mudança já está acontecendo. É tão real a mudança que até a terminologia usada é outra. Para aqueles que ficaram no modelo antigo é bom que fique claro que, para essa nova realidade não tem protesto: é entrar ou sentir-se excluído sem direito a reclamações.
            A Pedagoga. Há aproximadamente uns 18 anos atrás uma pedagoga de nossa igreja foi fazer um curso para a nova dinâmica pedagógica que vislumbrava. Quando voltou, disse: “A lousa é eletrônica, cada aluno tem um tablete e se comunica com a professora através da tela do mesmo”. As dúvidas eram tiradas por comunicação virtual e tanto os alunos como os professores ficavam de plantão para quaisquer esclarecimentos. De casa mesmo entravam em contato via internet senha-colégio-aluno-professor, a qualquer hora em que estivessem estudando. Uma revolução!
            Olhando a história, notamos que as mudanças no passado levavam em torno de 100 anos; foram diminuindo, passando para 50, 10, 5 anos e agora elas antecipam os acontecimentos; os estudiosos chamam isso de ‘tendências’. Quais serão as tendências daqui a tantos anos!?! Elas são previsíveis? Logo, as tendências para a moda, para a saúde, para a educação, para a comunicação e para todos outros aspectos são previsíveis.                         
            Gostaria de provocar nessa reflexão célere uma discussão sobre essa escola do futuro e levantar quais tendências assediam a escola chamada bíblica, a comunicação dentro da igreja, o comportamento do nosso povo para um período de aproximadamente uma ou duas décadas no máximo, baseando-nos nas mudanças tecnológicas ocorridas e nas tendências advindas dessas mudanças.
           
Escola Pós Moderna
A era pós-moderna tem a sua marca própria e é chamada de ‘Era do Vazio’. O que mais tem marcado esse tempo é o compromisso com o nada. Parece que nos familiarizamos com as mudanças tão constantes que nosso senso já não separa mais o que é bom e que é ótimo. As mudanças ocorrem com tanta facilidade e rapidez que os habitantes da pós-modernidade não discernem mais se o rio está subindo ou descendo, ou para eles, tanto faz. As questões do gênero viraram questões genéricas; tanto faz ser homem como mulher: ‘é só uma questão de escolha’, dizem. Já não percebemos que tanta informação que chega até nós, nada informa.
 
Armazenamento nas nuvens.
Ao longo das eras, há um tempo não muito distante, as universidades eram avaliadas por suas bibliotecas e pelo volume de livros nelas contido. O primeiro lugar que auditores do MEC (Ministério da Educação e Cultura) observavam numa universidade era sua biblioteca. Sabiam que a vitalidade universitária e o conhecimento estavam armazenados naquele lugar tão importante. O conhecimento estava à disposição dos acadêmicos, todavia, só podiam acessar aquele local e volumes com a devida e prévia autorização. 
Com o advento da tecnologia, o conhecimento saiu de dentro das bibliotecas e está acessível a todos, em todo tempo, em todos os lugares, sobre todos os assuntos. Isso acontece dentro dessa nova realidade que diretores, professores e alunos da Escola do Futuro já estão enfrentando. Essa Escola armazena suas informações e conhecimentos nas nuvens. Tudo está lá; é só acessar; um clique e o assunto pesquisado aparece diante dos olhos. Um chip do tamanho de um grão de arroz armazena mais informação que muitas bibliotecas juntas.
‘As nuvens’ tornaram-se a biblioteca mais consultada da história da humanidade, fazendo com que todas as pessoas busquem ali a informação que quiserem. Nelas estão depositados a água limpa e também os resíduos contaminados pelos poluentes químicos e heréticos que os homens tem lançado lá.
           
Escola Onipresente
            Outra característica dessa Escola do Futuro é o sentimento onipresente que a mesma carrega. Não há como fugir; onde a pessoa for, conseguirá acessar a aula, professor, matéria, rever assuntos já discutidos, deixar suas impressões sobre tal, e por fim, dar um sinal se concorda ou não. Esse é outro aspecto irreversível nessa Escola.
            A marca ‘online’ é o logo dessa nova Escola. Quem não usar esse uniforme, não entra! É necessário também ter algum conhecimento de informática (algum conhecimento é algum curso mais avançado) senão é chamado nessa Escola de analfabeto funcional.
            Os alunos que fazem parte dessa Escola sabem que antes de nascer já estão sendo ‘monitorados’ e suas vidas estão dentro de um HD. Não tem como escapar dessa realidade; A babá que cuida desses alunos chama-se ‘eletrônica’; O berço é embalado por sensores; aniversário do primeiro ano? Tablet ou iphone de ultima geração para, logo, logo ensinar os pais a usar os recursos existentes.
            Os aplicativos usados pelos alunos da nova escola são instrumentos que dizem onde estão, o que fazem, como fazem; além de monitorar, gravam tudo e pasmem, não tem como apagar; o que a pessoa faz, o site que entra, o que a pessoa fala, tudo fica registrado no onisciente dessa nova Escola. Apaga-se do histórico, mas não do registro nas nuvens.

Escola Multiforme
            Existe outro aspecto que deve ficar saliente na realidade dessa nova Escola: é a diversidade das formas que é oferecido aos alunos com o fim de que se mantenham informados. As informações chegam pelas ‘redes sociais’, pelos canais um pouco mais privativos (e-mails), chegam via comunicação individual (telefone com imagem), e até por torpedo. Não nos esqueçamos que todos esses meios são rastreados e tudo fica gravado; mas essa preocupação faz parte da variedade de opções oferecidas pela nova Escola.
            É uma escola versátil com múltiplas possibilidades, fazendo com que todos os que com ela estão envolvidos, tenham opções que lhes garantam ter de diversas maneiras tudo o que precisam. É realmente uma escola para cada gosto! O aluno faz a opção, escolhe o que quer estudar, e já nos primeiros anos elimina as matérias que não ‘faz o seu gênero’. Até o Ministério da Educação já está enxergando a necessidade de mudança no sistema para atender as demandas da nova escola.

Escola dos Conectados
            Esses dias uma bisavó de 93 anos disse: ‘a gente olha para as pessoas e só vê gente ciscando’, referindo-se àqueles que não deixam o seu smartphone nem quando estão dormindo. É a geração dos conectados, daqueles que não desconectam para nada, levando alguns terapeutas a montar clínicas de recuperação para viciados em conexão, como já existem várias no Brasil. A Escola do Futuro também vai trabalhar tempo, horário e vai ensinar os alunos não se tornarem escravos da tecnologia. Vamos esperar pra ver. 

Conclusão:- Para onde iremos nós se só Jesus tem palavras de vida eterna? Com um perfil tão indefinido, característica bipolar, informações esquizofrenizadas e um mundo de descobertas quase sem nada descobrir, essa é a Nova Escola. Tão cheia de detalhes para fazer jus à sua profundidade no vazio. Que tal darmos uma aula de escola bíblica e os membros da igreja ficarem assistindo em casa pelo facebook, instagram ou vídeo conferência?
            Meus queridos diretores: talvez tenhamos que rever nossos conceitos!!!


                                                                                                          Isac Pereira