A ESCOLA DOS VICE-DEUS
Eles estão
por todos os lados! Às vezes ‘generosos’, às vezes ‘bonzinhos’, às vezes
‘simpáticos’ ou às vezes nem tanto. Passam longo tempo dedicando-se a outros e
boa parte de sua formação estudando muito. Alguns até vão ao exterior para
fazer seu curso e suas especializações. Outros veem do exterior para trabalhar
aqui conforme tivemos aquele projeto onde foi importado ‘levas’ e mais ‘levas’
deles via ministério da saúde. São pessoas dedicadas que brotam no meio da
comunidade onde vivem, mas quando descobrem que tem tal vocação, saem de seus
redutos e, juntamente com a família, pagam alto preço para estudarem e obterem
a formação desejada.
Feito todo
esse esforço, saem para pleitear uma vaga em alguma escola renomada, estadual,
federal, particular, reconhecida, ou que dê condições a eles de alcançarem a
conquista, muito bem disputada (uma vaga a cada mil candidatos ou mais), de
realizarem o sonho de poder ser útil aos humanos, mortais. São verdadeiros
heróis que venceram uma vez quando da primeira corrida que tiveram para
chegarem ao encontro do óvulo que os esperava no útero, e assim tornaram-se
como um de nós. Mas suas aspirações foram muito elevadas e eles se propuseram a
ajudar os outros de maneira diferente. Isso é muito bom, pois a humanidade
precisa de pessoas com tais aspirações; todavia, ao entraram para a escola onde
iriam realizar seus cursos, dado o alto preço pago já na entrada, deu a esses
candidatos um sentimento superior. É um curso muito disputado com poucas vagas,
favorecendo para que aqueles que conseguem entrar tenham o sentimento um pouco
de superioridade mesmo, afinal, com tanta concorrência, só alguns poucos
conseguem.
Mas o que
se questiona aqui é o porquê alguns que já se formaram, se sentem tão
superiores aos demais mortais. Talvez seja a escola por onde passaram!?! Talvez
sejam seus mestres que com altivez lhes ensinou usar um bisturi!?! Talvez sejam
os livros onde fazem suas pesquisas detalhando minúcias do seu conhecimento!?!
Não se sabe, mas o que se sabe mesmo é que há um sentimento horrível de
superioridade de tal maneira que eles quase não podem ficar entre os mortais,
tamanha grandeza; Se ficarem, poderão contaminar-se, dizem. São absolutamente
intocáveis, estão extraordinariamente distantes e isolados num mundo
perfeitamente feito para eles; Ganham o que bem acham (não há nenhum problema
nisso); só trabalham em ambientes devidamente equipados e com condições
adequadas; quando algum mortal precisa deles, tem que marcar hora, dia e local
com o devido tempo prévio, nem que seja caso de vida ou morte (tem lugar daqui
a 90 dias para a consulta, respondem suas secretárias); Tem aquele que já
galgou certo grau na tabela deles e já chegou à posição de vice-deus que diz
assim aos familiares de algum moribundo: ‘leva para morrer em casa’, como se
ele fosse o dono da vida e determinasse o quanto o outro pode viver. Que
petulância!!! Tem alguns que determinam até quantos dias, horas, ou tempo, o
enfermo tem de vida. É nauseante tamanha arrogância!
Levei uma
bronca de um vice-deus desses quando estava no corredor de um hospital e fiz
uma pergunta a respeito de uma situação que me era pertinente. ‘SÓ POSSO FALAR
SOBRE ISSO DENTRO DO MEU CONSULTÓRIO’! Fez-me lembrar da época da inquisição e
do confessionário: os ditadores impunham as condições e quem dependesse, se
submetia. É só isso! Mas não restou de tudo o que temos visto, senão a certeza
de quem passa pela escola que leva essa graduação do sapato branco, já é um
forte candidato a vice-deus. Um pai, esses dias confessou: ‘Já falei para
aquela pessoa (alguém da família que graduou nessa área) que pare com essa
arrogância.’ Depois ele disse: ‘acho que é a escola que ensina ficar prepotente
assim, porque na família ninguém tem esse sentimento’.
QUE COISA!
Uma escola que forma vice-deuses! Será que isso poderia mudar algum dia?
De alguém
que não tem nenhuma preocupação com os candidatos a vice-deus, mas com esse sentimento
de superioridade, prepotência ou grandeza sobre os demais mortais, e que sabe
qual é o fim disso.
Isac
Pereira